Quando eu estiver cantando
Não se aproxime
Quando eu estiver cantando
Fique em silêncio (...)
Porque eu só canto só
E o meu canto é a minha solidão
É a minha salvação
(Cazuza)
Na maioria das vezes em que estou só, me ponho a
cantar cantigas diversas – que variam de acordo com o estado de espírito - ou
mesmo algumas melodias inventadas, sem letras ou significado aparente. Isso não
significa que eu goste da minha voz, ou que eu acredite que canto bem. Muito
pelo contrário – e é por isso que não me arrisco a nem abrir a boca perto de
outras pessoas. O caso é que o faço porque encontro na música, como em poucas
outras coisas, um lugar em que posso estabelecer uma conexão comigo mesmo, com
meus sentimentos, com meu subconsciente e até arrisco em dizer que com outras
pessoas. Assim como encontro um refúgio na escrita ou na leitura, encontro um
lugar assim na música: na letra e na melodia de algumas canções. Às vezes não
basta ouvir, tenho que me expressar através daquelas notas, daquelas palavras.
E é impressionante como esse simples ato nos transporta para um lugar
longínquo, mesmo sem sair do canto.
Como disse Cazuza, tem gente que canta procurando
Deus e eu, como ele, sou assim: com a minha voz desafinada apenas quero me
encontrar e gosto de estar só nesse momento tão importante. Assim como no
escrever e no pensar. É como se fosse uma prece: tão pessoal, inabalável e
urgente.
Nessas horas, apenas aproveito o encontro. Não faço
perguntas, nem procuraria respondê-las. O canto em si é vasto e suficiente, é
às vezes até demais para suportar. Há canções com as quais nos identificamos a
ponto de causar até um certo susto. Há aquelas também que não compreendemos
completamente, mas que de alguma forma nos toca. E há também aquelas que nos
acerta de uma forma inesperada, como se compostas exatamente para nós. Algumas
vezes pode ser doloroso, outras até bem revigorante.
Posso ser contraditório agora, mas algumas vezes é
tão urgente a necessidade que até me aventuro em algumas notas perto de outras
pessoas, mas sempre na esperança de que não me escutem. Arriscando parecer
ridículo, não me abstenho dessa obrigação comigo mesmo.
Agora, ouvindo e cantando, tento me encontrar de
diversas formas: nas notas musicais, nas letras que aqui ponho e em algumas
imagens que perpassam pela minha mente. De qualquer forma, é válida a
tentativa. São experiências que eu não deixaria de sentir por nada, nem mesmo
por certos obstáculos que a sociedade e a correria da vida impõem.
Não há nada mais
importante do que estrar presente nesse encontro. Nem que para isso seja
necessário cancelar alguns outros. Vale a pena cada segundo, nem que seja por
quase um segundo. É necessário. É vital.
(05/10/2015)
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