segunda-feira, 5 de outubro de 2015

De canto em canto

Quando eu estiver cantando
Não se aproxime
Quando eu estiver cantando
Fique em silêncio (...)
Porque eu só canto só
E o meu canto é a minha solidão
É a minha salvação
(Cazuza)

Na maioria das vezes em que estou só, me ponho a cantar cantigas diversas – que variam de acordo com o estado de espírito - ou mesmo algumas melodias inventadas, sem letras ou significado aparente. Isso não significa que eu goste da minha voz, ou que eu acredite que canto bem. Muito pelo contrário – e é por isso que não me arrisco a nem abrir a boca perto de outras pessoas. O caso é que o faço porque encontro na música, como em poucas outras coisas, um lugar em que posso estabelecer uma conexão comigo mesmo, com meus sentimentos, com meu subconsciente e até arrisco em dizer que com outras pessoas. Assim como encontro um refúgio na escrita ou na leitura, encontro um lugar assim na música: na letra e na melodia de algumas canções. Às vezes não basta ouvir, tenho que me expressar através daquelas notas, daquelas palavras. E é impressionante como esse simples ato nos transporta para um lugar longínquo, mesmo sem sair do canto.
Como disse Cazuza, tem gente que canta procurando Deus e eu, como ele, sou assim: com a minha voz desafinada apenas quero me encontrar e gosto de estar só nesse momento tão importante. Assim como no escrever e no pensar. É como se fosse uma prece: tão pessoal, inabalável e urgente.
Nessas horas, apenas aproveito o encontro. Não faço perguntas, nem procuraria respondê-las. O canto em si é vasto e suficiente, é às vezes até demais para suportar. Há canções com as quais nos identificamos a ponto de causar até um certo susto. Há aquelas também que não compreendemos completamente, mas que de alguma forma nos toca. E há também aquelas que nos acerta de uma forma inesperada, como se compostas exatamente para nós. Algumas vezes pode ser doloroso, outras até bem revigorante.
Posso ser contraditório agora, mas algumas vezes é tão urgente a necessidade que até me aventuro em algumas notas perto de outras pessoas, mas sempre na esperança de que não me escutem. Arriscando parecer ridículo, não me abstenho dessa obrigação comigo mesmo.
Agora, ouvindo e cantando, tento me encontrar de diversas formas: nas notas musicais, nas letras que aqui ponho e em algumas imagens que perpassam pela minha mente. De qualquer forma, é válida a tentativa. São experiências que eu não deixaria de sentir por nada, nem mesmo por certos obstáculos que a sociedade e a correria da vida impõem.
                Não há nada mais importante do que estrar presente nesse encontro. Nem que para isso seja necessário cancelar alguns outros. Vale a pena cada segundo, nem que seja por quase um segundo. É necessário. É vital.


(05/10/2015)

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