segunda-feira, 28 de setembro de 2015

(Des)Construção

“I can barely breathe
When you're here loving me
Fire meet gasoline
I got all I need
When you came after me
Fire meet gasoline
Burn with me tonight”
(Sia)

Pode ser perigoso esse tempo que passamos juntos, pois não parece que somos mais os mesmos. Há algo de bem diferente em mim e não me refiro a qualquer coisa perceptível aos olhos, mas algo mais complicado. Eu também não sei dizer se é benéfico, só sei que é muito estranho perceber que não me conheço tão bem quanto eu pensava e ver que sou capaz de tantas coisas. Acredito que você tem certa culpa em algumas mudanças, outras já penso que apenas dependiam de mim e de uma força que não sei onde encontrei ou onde encontrar novamente. Apenas entenda que o que eu digo não significa que eu não goste do que há ou que não quero que aconteça novamente, apenas me entenda e veja como isso me assusta. Às vezes eu sinto como se houvesse granadas ao meu redor apenas à espera de um momento - a explosão – e o que mais me assusta nisso tudo é essa vontade de correr até elas, de dispará-las todas, como se essa explosão fosse de certa forma necessária. E talvez seja. Talvez precisamos perder tudo aquilo em que acreditamos estar seguros para encontrar nossa própria fortaleza e, nesse mesmo sentido, perder o que somos para então nos encontrarmos de fato. Um disparo. Destruição. O encontro. Não é um simples espalhar de destroços, é algo que leva tempo e nunca para. Apenas esteja aqui, me ajude a juntar as peças e vamos nos construindo.

(28/09/15)

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Cais do porto

Hoje eu percebi que minhas âncoras não estão assim tão seguras como eu sempre achei que estivessem. Me apoio no que eu acreditava ser uma fortaleza própria, algo que eu mesmo havia criado. Percebi que as estruturas de um ser humano são, na verdade, mais frágeis do que se pode imaginar.
Às vezes ocorrem maremotos e tempestades que me fazem querer me livrar dessas âncoras e, como esse mar que me rodeia, transbordar. Às vezes, todo esse caos surge como algo que implode de mim e não de uma força externa, como era de se esperar. Fico me sentindo estranho, pois acho que os outros têm portos muito mais seguros.
Muitas vezes, o que eu acabo fazendo é me entregar ao silêncio de um mar calmo, que não é deveras calmo e se aproxima mais de uma maré noturna em lua cheia. É aquele silêncio que te arrasta para dentro de si enquanto observas o horizonte tornando-se distante.
Marinheiros que tentam navegar, tomem cuidado com as trapaças do mar. Estas são águas salgadas de suor e lágrimas de quem as navega.
Hoje percebi que todas essas âncoras são, na verdade, inúteis se não há algo em que possam se sustentar e apenas o solo que criei, por não ser tão firme, não é suficiente.
Quando você esteve aqui e fitou demoradamente essa água que nem é tão cristalina, observando seu rosto balançar às ondas desse mar, pude ver uns olhos densos. São olhos densos daqueles que fazem parar a correnteza por alguns segundos, que silenciam o caos por um momento. São castanhos e sólidos, como terra firme para se ancorar. Tive vontade de falar muitas coisas, mas poderia fazer desabar as estruturas de um cais de porto assim tão seguro. Eu poderia assim produzir um tsunami que te engoliria e te faria se perder nas minhas confusões. Preferi então manter o silêncio de uma maré alta, que sussurra palavras fortes, mas que não perturba. Permiti-me ancorar no teu porto.
Se mar, marinheiro ou embarcação, não estou certo de quem verdadeiramente sou. Mas sei que estou seguro nas minhas próprias instabilidades. E nas tuas.

(14/09/15)