Socorro, não
estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo
Não vai dar mais pra chorar
Nem pra rir...
Não vai dar mais pra chorar
Nem pra rir...
Socorro, alguém
me dê um coração
Que esse já não bate nem apanha
Por favor, uma emoção pequena, qualquer coisa
Que esse já não bate nem apanha
Por favor, uma emoção pequena, qualquer coisa
(Arnaldo
Antunes; Alice Ruiz)
Socorro, tudo
grita. No entanto, todavia, contudo, nada ouço. De tanto me fazer surdo,
enquanto tudo ouvia, fui na verdade o sendo e agora nem me escuto. Mesmo aquela
música, ou qualquer grito, mesmo que meu, principalmente meu, se faz agora como
ausente. Mas não me engano, sei que soa por aí. A grande (nem tanto) questão é
que desaprendi a me ouvir. É que achava a minha voz demasiadamente irritante e
preferia ouvir o nada. Tanto apelo, tanto socorro, e nada. Agora a voz do dono
grita pelo dono da voz, mas o mesmo agora é não-mais-dono de si e nada que lhe
pertencia lhe é familiar. Tudo grita e eu não posso revidar. Há tanto pra se
dizer, discutir, refutar, corroborar, reiterar, emitir, omitir. Quanto, tudo,
tanto e mais ainda. Grita, grito. Pois
há necessidade e há o direito, como me assegurava Clarice. Mas nada adianta agora.
É tanta alma pra ser salva e mais uma agora. Apenas espero, um sopro, assobio
qualquer. Me ouve, me faz ouvir. Socorro.
(04/02/13)