quarta-feira, 15 de abril de 2015

Apenas desencontros casuais

É bem possível que você nem saiba meu nome, muito menos outras coisas sobre mim. Sou aquele completo estranho que a gente vê de vez em quando. Eu, no entanto, já sei muito da tua rotina, sei bem os teus traços – caso precise descrevê-los, sou a pessoa mais indicada. O teu nome, não foi bem a primeira coisa que eu soube sobre você, aliás, veio muito depois das primeiras palavras trocadas e muitas unhas roídas de curiosidade querendo saber tudo sobre quem vi algumas vezes. Antes disso eu já soube: queria saber muito mais. Espero ter passado despercebida todas as vezes que vigiava a tua janela antes mesmo da minha ao chegar em casa, ou quando olhava para os vários lados na esperança de te ver ali no meio do caminho, trocar um “bom dia” casual enquanto meu coração triplicava o movimento de suas baquetas. Eu realmente não consigo entender, e não espero que os outros entendam, como alguém que mal conhecemos pode causar tão dramático efeito em como vivemos. Posso parecer apenas mais um rosto no mosaico dos tantos que você vê por aí, mas para mim o seu representa mais do que qualquer um, sem nem mesmo ter motivo especial para tal. A tua figura, sem particularidades, é singular. Enquanto, pra você, meu nome é Estranha, eu já te dei muitos nomes além daquele que você conhece. São nomes que eu chamo quando estou só, imaginando que estás bem ali a alguns passos de mim. Sem saber bem ao certo os detalhes da tua vida, conheço os horários em que posso ouvir tua voz ao longe conversando com seus amigos enquanto sai de casa para o trabalho ou algo do tipo. Sei quando posso, propositalmente fazer a coincidência de te encontrar chegando em casa ao mesmo tempo que eu, parecendo surpresa por te encontrar ali, dizendo “boa tarde” mas querendo saber como vai, por onde tem andado e quais seus mais íntimos pensamentos agora, mas ao mesmo tempo suando, querendo correr e ficar. Não sei se você me acha uma pessoa de poucas palavras, pois tudo que falamos um pro outro são saudações convencionais, mas a verdade é que eu tenho todo um texto em mente que eu construo nas horas em que deveria estar pensando em qualquer outra coisa, mas as palavras se perdem antes mesmo de surgirem. Eu pouco sei da tua personalidade – além daquela que criei pra você, é claro – mas imagino que não conheço uma das melhores pessoas que poderia conhecer. São poucos, e você aí está, aqueles cuja ausência me perturba. Fico imaginando mil coisas quando te vejo e outras milhões quando você some. Quando você aparece novamente, toda essa ansiedade vai e dá lugar a outra, velha conhecida, querendo e não querendo te ver. Torço pra que você esteja no meu caminho e rezo para que nem te veja quando acho que não estou apresentável.  Quando você sai ou chega fico querendo saber quais são seus descaminhos e querendo me perder neles com você. O tempo que deveria dedicar às outras mil coisas que estavam na minha vida antes de você é, hoje, todo seu. As palavras que deveria estar agora dizendo a você, enquanto nos encontramos casualmente como nas outras muitas vezes, depois do oi e do sorriso tímido, estou derramando agora sobre esse papel. E esse papel, que eu poderia te entregar em mãos na mais remota possibilidade, é mais provável de acabar amassado na lixeira. As nossas conversas que já aconteceram tanto na minha cabeça, talvez nem aconteçam. Enquanto a coragem se perde no meio do caminho, vou tentando encontrá-la mesmo assim e espero que nesse meio tempo possa te encontrar muitas outras vezes.

(15/04/15)

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