"As ilusões, dizia-me o meu amigo, talvez sejam em tão grande número quanto as relações dos homens entre si ou entre os homens e as coisas. E, quando a ilusão desaparece, ou seja, quando vemos o ser ou o facto tal como existe fora de nós, experimentamos um sentimento bizarro, metade dele complicada pela lástima da fantasia desaparecida, metade pela surpresa agradável diante da novidade, diante do facto real".
Charles Baudelaire
Se é ilusão. Pois bem, não sei ao
certo. Se de olhar nos olhos dos fatos, faço minha filosofia, de imaginar
outras coisas nesses olhos, faço meu hábito. E não me agrada tanto quanto
deveria. Pois se é realidade inventada e cheia daquilo impossível e bom, sou ciente
dessa invenção e, como dizem, às vezes a ignorância é um bom consolo. E se “o
nosso amor a gente inventa”, pra se distrair ou não, prefiro viver de pé no
chão. Mas, volta e meia, olho pra baixo e o chão está longe demais e o caminho
pras nuvens se torna mais curto. E se não é pra ter tanto “se” na vida e tanta
vírgula e tanta contradição, não sei mais o que posso fazer, pois nisso sou
especialista. Em se, em vírgulas, em interrogações, em reticências, em
contradições e coisa e tal... E se é ilusão, quando me deparo com ela, caio de
onde estou e o impacto do corpo tocando a superfície é por demais doloroso. Sou
obrigado então a andar, com os pés no chão, claro, e caminhando, caminhando,
caminhando, vou pra não sei onde, me deparo então no mesmo lugar, vendo a mesma
não-mais-ilusão. Caio na burrice de falar. Falando, me perco. E volto a não ver
mais o chão, e o caminho pras nuvens é mais curto e que é melhor não pensar
nisso e blá blá blá. Imaginação é uma droga mesmo.
(26/08/12)