domingo, 15 de setembro de 2013

Essa Romaria chamada "Vida".





Somos todos caipiras (Pirapora nossa e de todos que presenciam o milagre da coexistência entre os seres) ao honrarmos o chão onde pisamos, primeiramente e pra-sempre-mente.

O torrão que nos dá. Assim verbo intransitivo mesmo, pois é infinita tanta generosidade.

Cuidemos dele.
Cuidemos de nós. 
Cuidem de nós, Nossas Senhoras todas, que o trem das nossas vidas vai vagando por aí e só aqu'Ele sabe pr'aonde vamos.




(Salve, Elis! Salve, Filipe Catto! Salve, as belas vozes desse nosso Brasil). 

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Ready for love



I am ready for love,
why are you hiding from me?
I'd quickly give my freedom
to be held in your captivity...
(India.Arie)


Sim, amor só dura em liberdade. Sentenciava o Maluco Beleza. Esse espírito livre e impuro. Amor quer ter passo comprido, voo distante. Quer sair por aí, olhar pra trás e: te ver. Amor quer amarras. Sim: liberdade é preciso e o ciúme também. Senão há rotina, e cansa.
E há quem diga que não há no mundo, ou em outro, sentimento mais paradoxal. Se queres amor, toma esta luta eterna de que o mesmo se faz.
Tu me disseste que estavas pronta: que se permitia se desprender, desapegar completamente. Retruco: não estás. Pois há de sempre ter entrega, qualquer coisa de rendição, sacrifício. Nunca essa coisa doentia de ter. Não nos possuímos, nunca. O que se diz humano deve ser pra sempre do mundo, sem restrições.
Devemos ser pássaros: do mundo, dentro de uma gaiola. Gaiola de porta aberta.  As asas íntegras e o canto límpido.
Lembras da menina que vivia a chamar: “vem cá, Sabiá, vem cá”? Não sabia que a ave era do mundo. Talvez por isso fosse amor puro, inocente.
É preciso estar pronto a entender coisa tão complicada como é essa de que estamos falando. Raramente estamos. E enquanto isso, vamos brincando de ter, de perder, brigar e “amar”, não no seu sentido mais verdadeiro, mas no que conhecemos.
Prepara-te. A vida é um constante brincar de amar.
E somos sempre peça.
“Sabiá responde de lá: Não chore que eu vou voltar”.

(30/08/2013)


quarta-feira, 24 de julho de 2013

Carta extraviada, pois nunca enviada

From nowhere, everywhere, 24 de julho de 2013.

Meu caro amigo, não tão caro pois inexistente,

Após um bom tempo sem nos comunicarmos, venho por meio desta tentar restabelecer qualquer vínculo entre nós já construído. Peço desculpas pela ausência, mas deves saber que era necessário. E pode até ter sido melhor, mais agradável, assim. Tua voz nunca soou tão mágica e sábia como nos últimos anos nem tão nociva como agora.
As palavras ferem, eu sei. Mas sempre bom ter um pouco de sangue se exteriorizando de nós, para lembrarmos que somos vivos, mas não para sempre. Ou nem sempre. Confesso já ter avistado muitos mortos andando por aí, fingindo vida que não os cabe mais, ou nunca coube.
Tenho medo: de também estar fingindo coisa qualquer que não sou. Ao mesmo tempo que temo, tenho certeza de o estar fazendo. E me culpo. Dia após noite e dia.
Medo tenho mais do que me cabe e do que isso pode fazer comigo. E com os outros. E vice-versa. Whatever. O avesso de tudo pode ser verdadeiro nas palavras que ponho aqui.
Você pode estranhar a forma como tento entrar em contato contigo, posto que sempre nos falamos sem palavras inteiras, escritas, mas apenas pensadas. E incompletas, pois até em pensamento se deve ter cuidado com as palavras que usa. Nunca estamos sós. É a primeira vez que me aventuro nesse meio, de palavra escrita dirigida a alvo preciso, mas já não ligo se o caminho é mais seguro ou fácil, contanto que verdadeiro e eficiente.
Tenho medo: da resposta que podes me enviar. Dos vocábulos sinceros, secos, intragáveis que podes me dirigir. Tenho medo também que não os fale. Pior. Que sejam agradáveis.
Do que eu preciso é de mim, de ti, de todos e de ninguém.
Condição humana mais verdadeira e necessária que o medo ainda há de se encontrar. Enquanto precisarmos sobreviver para viver, viveremos temendo.
Assim dito, posto, colocado, concluo: não posso. Guardo mais um pouco pra te enviar esta, que é a chave de mim. Me admito covarde, não me mereço. Mas por assim ser, me reconheço sobrevivente. Dia-a-quase-outro-dia.
Me despeço, com enorme pesar e com grande alívio. Ouvindo aquela do Belchias, tentando aceitar o convite daquele coração selvagem. “Andar caminho errado pela simples alegria de ser/ Meu bem, vem viver comigo, vem correr perigo, vem morrer comigo...”
                
Até.
Daquele que não precisa assinar. Pois palavras tão vagas não poderiam vir de outrem.


P.S.: “Vida, pisa devagar meu coração. Cuidado, é frágil”.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Save Our Souls


Socorro, não estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo
Não vai dar mais pra chorar
Nem pra rir...

Socorro, alguém me dê um coração
Que esse já não bate nem apanha
Por favor, uma emoção pequena, qualquer coisa

(Arnaldo Antunes; Alice Ruiz)


Socorro, tudo grita. No entanto, todavia, contudo, nada ouço. De tanto me fazer surdo, enquanto tudo ouvia, fui na verdade o sendo e agora nem me escuto. Mesmo aquela música, ou qualquer grito, mesmo que meu, principalmente meu, se faz agora como ausente. Mas não me engano, sei que soa por aí. A grande (nem tanto) questão é que desaprendi a me ouvir. É que achava a minha voz demasiadamente irritante e preferia ouvir o nada. Tanto apelo, tanto socorro, e nada. Agora a voz do dono grita pelo dono da voz, mas o mesmo agora é não-mais-dono de si e nada que lhe pertencia lhe é familiar. Tudo grita e eu não posso revidar. Há tanto pra se dizer, discutir, refutar, corroborar, reiterar, emitir, omitir. Quanto, tudo, tanto e mais ainda.  Grita, grito. Pois há necessidade e há o direito, como me assegurava Clarice. Mas nada adianta agora. É tanta alma pra ser salva e mais uma agora. Apenas espero, um sopro, assobio qualquer. Me ouve, me faz ouvir. Socorro.

(04/02/13)

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Qualquer coisa de triste


"Toda alegria é assim: já vem embrulhada numa tristezinha de papel fino".
-Millôr Fernandes


Esse não é um bilhete suicida, de despedida ou de instruções até eu voltar. É apenas um lembrete, pra mim mesmo. Para que eu lembre que é fundamental estar triste. E que não obstante os planos traçados, tudo corre de um jeito louco, e nunca sabemos onde estamos e às quantas estamos. Vivemos disso, de estarmos assim e, de repente, não mais. É bom provarmos do fel de nossa essência, do que fizemos, do que deixamos de fazer. É que alegria demais é muito deprimente. Não suportamos de muita, só de pouquinho. Demais é por demais perigoso. Tem que se tomar tento. Tem que se deixar ficar casmurro, jururu, blue. Que aquela hora da piada é muito mais gostosa se se fizer assim. Não te preocupas. Se choro, mesmo sem lágrima, é que tô esperando a hora do sorriso. Tudo tem hora. Te lembras disso. Desculpa tudo isso, é que na minha escola só aprendi a pensar (e olha que muito), e essa história de ênclise e pontuação é demais pra mim, ainda mais nessas horas que tá tudo vindo à cabeça e não é sempre que acontece. Se espia. Mas de fininho, que é pra não perceber. Chora e resmunga um pouquinho, que é pra sorrir na hora certa. Tenho que ir agora, começa a chover e esse papel é fino que só pele de rã e tu, que sou eu, não pode deixar de ler. Não esquece. Me vou. 

(03/02/13)

sábado, 2 de fevereiro de 2013

A gente se vê


Quando você me ouvir chorar
Tente não cante não conte comigo
Falo não calo não falo deixo sangrar
Algumas lágrimas bastam pra consolar...
Tudo certo, como  2 e 2 são cinco.
-Caetano Veloso


Se você acha que me vê, não posso apenas contrariar. Mas digo, desconfio, penso que teus olhos te enganam. Essa coisa de ver e enxergar não dá no mesmo.  É que as pessoas se mostram de menos, mesmo quando se mostram demais. Quero apenas que estejamos bem, mesmo que eu não. E quando me refiro a nós, me refiro ao mundo inteiro. Sim, estou ciente do meu sempre discurso não-me-importo-com-os-outros. E não me importo mesmo, mas me importo comigo e com aqueles que são “eu”. E fazer parte do mundo é o mesmo que fazer parte de si, porque, por mais desconsertado que ele esteja, ainda vivemos nele. E não somos sem estarmos. Apenas creia, estou bem. Com tudo e contudo. Somos humanos, nos fazemos aos poucos. Somos no escuro. Apenas me escuta e me segue. Conto contigo, mas não conta comigo. Sou terço de muitas contas, contas até perdidas, arrisco dizer. Talvez um dia, quando tudo estiver mais claro a gente possa contar e cantar juntos. Segue em paz, que eu procuro a minha. A gente se vê. De uma forma ou de outra.

(02/02/13)

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

D is for dangerous. And L, for life.



“Viver é muito perigoso... Porque aprender a viver é que é o viver mesmo. Travessia perigosa, mas é a da vida. Sertão que se alteia e abaixa... O mais difícil não é um ser bom e proceder honesto, dificultoso mesmo, é um saber definido o que quer, e ter o poder de ir até o rabo da palavra.”
-Guimarães Rosa.



Sim. Viver é muito perigoso. Para quem sabe, pra quem não sabe, pra quem não quer saber (principalmente). Acontece que cada passo pensado que eu dou me faz perceber que. A verdade é que não me faz perceber nada, já que continuo com os mesmos passos, bem pensados, e pior, igualmente pensados. Pois, se em algum momento a lucidez bateu à minha porta, ela simplesmente deixou um bilhete com alguma piada sem graça que eu não entendi e não apareceu, não me disse nada, não entrou nem se deixou ficar. Ou melhor, não a vi, não falei, não a deixei entrar, nem tampouco, ficar. Como eu ia dizendo - e isso vem acontecendo muito ultimamente, eu simplesmente paro o que estava falando e me enveredo por outros meios, a ponto de me confundir e te confundir também. Desculpe-me. Como eu ia dizendo, acontece que cada passo pensado me faz perceber que a linha de chegada não é aquela grande faixa a ser cruzada com o rosto sorridente, suor pingando, os aplausos, as pessoas a me receber com todos aqueles prêmios. Simplesmente não é. De repente a gente pode se deparar com nenhuma faixa, nenhuma pessoa, ou sorriso, ou prêmios, ou vida. E, por favor, não se irrite com essa minha dúvida, se uso eu, se uso nós, se uso tu. É que, como várias outras coisas na vida, eu apenas não sei. Se haverá eu, ou nós, ou tu. Apenas não sei. Eu sei que os passos continuam pensados demais, mas é o que eu sei fazer. Eu sei o que você quer dizer, entendo quando tenta me convencer das mudanças. Acontece que, como para qualquer ser humano, elas são assustadoras. São aquelas grandes pedras no meio do caminho de passos pensados. E talvez seja isso mesmo que a gente esteja procurando. Uma boa pedra no meio do caminho. Daquelas que nos faz tropeçar e cair de cabeça no chão e nos levanta, em outra direção, outro caminho, outra vereda. Uma boa pedra, daquelas que caem em poemas inusitados e que passa a ser assunto para o resto da história da literatura. Daquelas que se impõem, pra si e para gerações futura. Like a rock ‘n’ roll. E lá está você, tentando lembrar quando foi que o assunto se tornou sobre pedras. Como eu ia dizendo... já não digo mais nada, porque essa pedra me tirou do meu caminho lógico, pois é isso que ela faz, é esse o seu papel. Agora, levanto e olho. Qual a nova direção a seguir, com meus passos, os mesmo, pensados, até encontrar outra boa pedra que me lembre o quão perigoso é viver.

(01/02/13)