Quando
criança, como a maioria delas, eu gostava muito de brincar e interagir com as
outras de idade próxima. Naturalmente eu queria aproveitar ao máximo aqueles
momentos e desejava que todos os dias fossem assim, por inteiros. No entanto,
como filho único, entre outros fatores, não eram raros os momentos em que eu
mesmo e a minha casa eram minhas únicas companhias. Eu não percebia àquela
época, mas eu também apreciava esses momentos e fazia deles muito proveito. Já
desde infante, descobri certo apego à solidão e ao misterioso conforto que ela
pode nos trazer. Eram nesses momentos de pouca distração externa que eu podia
me perder dentro das fantasias de um menino com muita imaginação. Era ali
também o cenário perfeito para aprender muito sobre o mundo e como ele
funcionava. Embora na escola, nas ruas e à televisão eu pudesse observar o
mundo, era apenas comigo mesmo e ninguém mais que eu poderia pensar sobre,
entender, intrigar-me e imaginar alternativas. Minhas melhores memórias da
infância foram propiciadas por esses momentos e muito do que sou hoje, em
ideias, deve-se a eles.
Durante esses
devaneios infantis, eu dispensava também muito tempo a pensar sobre o futuro.
Eram muitos, variados e alguns até ridículos. O futuro que pensou aquele menino
pode ser muito diferente do que o destino tratou de realizar. Nem sei se lembro
perfeitamente do que eu imaginava, mas foram esses planos que me moveram.
Hoje me pego
novamente aproveitando a solidão no meio do caos que o mundo externo insiste em
manter e novamente caio no futuro, ou melhor, nas possibilidades de futuro.
Recordo de como eu planejei coisas que nunca se realizaram e também como coisas
maravilhosas aconteceram sem eu nunca ter imaginado. Penso em como o tempo nos
ajuda a entender as coisas e nós mesmos. E quando me vem urgente uma vontade de
fugir do cenário comum e rumar ao desconhecido, percebo que não é apenas para
me distanciar de problemas ou pessoas, mas sim para encontrar algumas respostas,
para encontrar algum sentido oculto, na vida, no caminhar, nos outros e em nós
mesmos.
Em meio aos
planos que vou traçando e às metas que estabeleço, não me deixo esquecer de
como o acaso pode ser um grande amigo e a incerteza, uma das melhores aliadas. Continuo
imaginando o amanhã e tentando realizá-lo, mas não dispenso uma mãozinha do
destino para me surpreender.
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