quarta-feira, 2 de março de 2016

Amanhã pode não ser como imaginamos

Quando criança, como a maioria delas, eu gostava muito de brincar e interagir com as outras de idade próxima. Naturalmente eu queria aproveitar ao máximo aqueles momentos e desejava que todos os dias fossem assim, por inteiros. No entanto, como filho único, entre outros fatores, não eram raros os momentos em que eu mesmo e a minha casa eram minhas únicas companhias. Eu não percebia àquela época, mas eu também apreciava esses momentos e fazia deles muito proveito. Já desde infante, descobri certo apego à solidão e ao misterioso conforto que ela pode nos trazer. Eram nesses momentos de pouca distração externa que eu podia me perder dentro das fantasias de um menino com muita imaginação. Era ali também o cenário perfeito para aprender muito sobre o mundo e como ele funcionava. Embora na escola, nas ruas e à televisão eu pudesse observar o mundo, era apenas comigo mesmo e ninguém mais que eu poderia pensar sobre, entender, intrigar-me e imaginar alternativas. Minhas melhores memórias da infância foram propiciadas por esses momentos e muito do que sou hoje, em ideias, deve-se a eles.
Durante esses devaneios infantis, eu dispensava também muito tempo a pensar sobre o futuro. Eram muitos, variados e alguns até ridículos. O futuro que pensou aquele menino pode ser muito diferente do que o destino tratou de realizar. Nem sei se lembro perfeitamente do que eu imaginava, mas foram esses planos que me moveram.
Hoje me pego novamente aproveitando a solidão no meio do caos que o mundo externo insiste em manter e novamente caio no futuro, ou melhor, nas possibilidades de futuro. Recordo de como eu planejei coisas que nunca se realizaram e também como coisas maravilhosas aconteceram sem eu nunca ter imaginado. Penso em como o tempo nos ajuda a entender as coisas e nós mesmos. E quando me vem urgente uma vontade de fugir do cenário comum e rumar ao desconhecido, percebo que não é apenas para me distanciar de problemas ou pessoas, mas sim para encontrar algumas respostas, para encontrar algum sentido oculto, na vida, no caminhar, nos outros e em nós mesmos.
Em meio aos planos que vou traçando e às metas que estabeleço, não me deixo esquecer de como o acaso pode ser um grande amigo e a incerteza, uma das melhores aliadas. Continuo imaginando o amanhã e tentando realizá-lo, mas não dispenso uma mãozinha do destino para me surpreender.

(02/03/2016)

Nenhum comentário: