segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Das obras mais lindas de nossa literatura...






Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio, o rio — pondo perpétuo. Eu sofria já o começo de velhice — esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de padecer demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele estava lá, sem a minha tranqüilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse — se as coisas fossem outras. E fui tomando idéia. (...)


Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.


- Guimarães Rosa, A terceira margem do rio. 

domingo, 26 de agosto de 2012

Se é ilusão




"As ilusões, dizia-me o meu amigo, talvez sejam em tão grande número quanto as relações dos homens entre si ou entre os homens e as coisas. E, quando a ilusão desaparece, ou seja, quando vemos o ser ou o facto tal como existe fora de nós, experimentamos um sentimento bizarro, metade dele complicada pela lástima da fantasia desaparecida, metade pela surpresa agradável diante da novidade, diante do facto real".
Charles Baudelaire

Se é ilusão. Pois bem, não sei ao certo. Se de olhar nos olhos dos fatos, faço minha filosofia, de imaginar outras coisas nesses olhos, faço meu hábito. E não me agrada tanto quanto deveria. Pois se é realidade inventada e cheia daquilo impossível e bom, sou ciente dessa invenção e, como dizem, às vezes a ignorância é um bom consolo. E se “o nosso amor a gente inventa”, pra se distrair ou não, prefiro viver de pé no chão. Mas, volta e meia, olho pra baixo e o chão está longe demais e o caminho pras nuvens se torna mais curto. E se não é pra ter tanto “se” na vida e tanta vírgula e tanta contradição, não sei mais o que posso fazer, pois nisso sou especialista. Em se, em vírgulas, em interrogações, em reticências, em contradições e coisa e tal... E se é ilusão, quando me deparo com ela, caio de onde estou e o impacto do corpo tocando a superfície é por demais doloroso. Sou obrigado então a andar, com os pés no chão, claro, e caminhando, caminhando, caminhando, vou pra não sei onde, me deparo então no mesmo lugar, vendo a mesma não-mais-ilusão. Caio na burrice de falar. Falando, me perco. E volto a não ver mais o chão, e o caminho pras nuvens é mais curto e que é melhor não pensar nisso e blá blá blá. Imaginação é uma droga mesmo.

(26/08/12)

segunda-feira, 26 de março de 2012


Procuro despir-me do que aprendi
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras,
Desembrulhar-me e ser eu...

- Alberto Caeiro 



quinta-feira, 15 de março de 2012

Sobre o que não sei



A poesia está guardada nas palavras – é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
   - Manoel de Barros 


Sobre tudo que sei, não sei falar. A propósito, não sei o que sei ou o que não sei. Sei duvidar de mim e dos outros. Sobre mim, só sei fazer perguntas. E as repostas não me chegam a tempo de ainda querê-las. Não sei o que é certo ou errado, pois errado sei que é não ser feliz. Com uma pitada de tristeza, sempre. Pra não se desacostumar do choro, mesmo que por dentro. Sei da beleza que há em tudo que é simples. Em tudo que é íntimo. E mesmo que externo, íntimo. E mesmo que feio, belo. Não sei de mim ou dos outros. E talvez essa seja uma grande questão. Suficiente pra uma vida inteira de dúvida. Sei do descaso, do descanso, do cansaço. De tudo que fadiga, como essas grandes questões da vida que te põem pra baixo, aí você não quer mais saber e então vai escrever qualquer coisa sobre nada. Sei de tudo que acontece, mas não o porquê. E por que isso importa, também não sei. E por que escrevo. Também não sei. Pois se soubesse não o faria: sobre tudo que sei, não sei falar.

Poesia, pois então.

Dia nacional da poesia, 14 de março. Dia de poesia é todo dia que a vida sorri pra gente e nós sorrimos de volta. Com um verso, uma prosa, uma cantiga, uma trova.






Saudade eu tenho do que não nos coube;
Lamento apenas o desconhecimento
Daquilo que não deu tempo de repartir
Você não saboreou meu suor,
Eu não lhe provei as lágrimas.
É no líquido que somos desvendados
No gosto das coisas o amor se reconhece
O meu pior e o meu melhor e os seus
Ficaram sem ser apresentados.


- Martha Medeiros.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Um agrado, um doce, uma poesia.

Bom mesmo é se deparar com belas palavras de não menos bela pessoa. "Glória aos re-encontros", parafraseando-a. Que bom vivê-los; e que aconteçam a gosto do destino, do tempo, da nossa vontade. Seguem as palavras:


Um agrado poético


Salve, salve a magia dos encontros,  glória aos re-encontros! E assim sendo, na arte de ser-com-os-outros , me fiz sendo assim, carinho por ti. E o tempo é uma variável, apenas, sem penas, por favor. Pois sempre és luz no que se faz o ‘’que-bom-te-ver’’. E que nossa canção, aquelas várias cantadas juntas, confundidas com risos, nos faz ter o siso de saber amar, além de limites geográficos. Sendo no meio fio do ‘’quase- pra- sempre’’, é raiz pró-funda no além de nossas lembranças, essa saudade, que perfuma os cantos em que juntos passamos, e passaremos. A  praça, o teatro, a padaria, o sofá, os sonhos, e as imagens cúbicas memorias, assim terão o vivo da tua cor, que deixastes na tua passagem, pelos meus caminhos. E pelas minhas andanças, será como cicatriz, histórica, perene e real.  Além da nossa existência fantástica. Sê todo em tudo, raio de luz arthuziana. Sê assim, além-fim.

 Klyvia Sousa Tenório.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

De uma sexta-feira 13

A sorte não é dita pela data, pelo número de letras, pelo pé que você coloca no chão, ou por objetos postos em posições estratégicas. A sorte é acontecimento. Acontecimento é ação. Ação é o que nós podemos fazer de melhor. Somos os donos da sorte. E se você acha esse pensamento um pouco ateu, ouça, veja: Somos dotados desse poder de agir e não sabemos por que ou por quem, mas que “há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”... Nós sabemos, ou melhor, sonhamos. Podemos chamar de sorte, destino, ou simplesmente futuro. Eu chamo de realidade.

(13/02/12)

2012

Uma expectativa pra 2012 em advérbio de modo: Surpreendentemente.

Apoio

Apoio sua causa,
Suas calças
Sua saia
Qualquer dia que não quiser sair
De casa.

Que se quiser ou me quiser assim
Cheio de jura
De ternura
De fundura
Nas palavras.

Quero que me apoie
Que me faça rir
Que me faça crer
Que pra viver bem no mundo
Basta querer.

(13/01/12)

- Apoio um feliz ano novo a todos.