Hoje eu percebi que minhas âncoras não estão assim
tão seguras como eu sempre achei que estivessem. Me apoio no que eu acreditava
ser uma fortaleza própria, algo que eu mesmo havia criado. Percebi que as
estruturas de um ser humano são, na verdade, mais frágeis do que se pode
imaginar.
Às vezes ocorrem maremotos e tempestades que me
fazem querer me livrar dessas âncoras e, como esse mar que me rodeia,
transbordar. Às vezes, todo esse caos surge como algo que implode de mim e não
de uma força externa, como era de se esperar. Fico me sentindo estranho, pois
acho que os outros têm portos muito mais seguros.
Muitas vezes, o que eu acabo fazendo é me entregar
ao silêncio de um mar calmo, que não é deveras calmo e se aproxima mais de uma
maré noturna em lua cheia. É aquele silêncio que te arrasta para dentro de si
enquanto observas o horizonte tornando-se distante.
Marinheiros que tentam navegar, tomem cuidado com
as trapaças do mar. Estas são águas salgadas de suor e lágrimas de quem as
navega.
Hoje percebi que todas essas âncoras são, na
verdade, inúteis se não há algo em que possam se sustentar e apenas o solo que
criei, por não ser tão firme, não é suficiente.
Quando você esteve aqui e fitou demoradamente essa
água que nem é tão cristalina, observando seu rosto balançar às ondas desse
mar, pude ver uns olhos densos. São olhos densos daqueles que fazem parar a
correnteza por alguns segundos, que silenciam o caos por um momento. São
castanhos e sólidos, como terra firme para se ancorar. Tive vontade de falar
muitas coisas, mas poderia fazer desabar as estruturas de um cais de porto
assim tão seguro. Eu poderia assim produzir um tsunami que te engoliria e te
faria se perder nas minhas confusões. Preferi então manter o silêncio de uma
maré alta, que sussurra palavras fortes, mas que não perturba. Permiti-me
ancorar no teu porto.
Se mar, marinheiro ou embarcação, não estou certo
de quem verdadeiramente sou. Mas sei que estou seguro nas minhas próprias instabilidades.
E nas tuas.
(14/09/15)
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